HIV tem criado resistência ao Tenofovir, indica estudo

Medicamento é muito usado como primeira opção de tratamento para quem descobre ter o vírus da aids

Publicado em 04/07/2021
Tenofovir: usado contra HIV, medicamento apresenta resistência no Brasil
 Pesquisa foi realizada com pacientes em tratamento do vírus entre 2008 e 2017 no Brasil

Estudo realizado pelo Brasil em parceria com Portugal mostra que há resistência do HIV a um dos principais antirretrovirais usados por aqui: o Tenofovir (TDF).

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"É o medicamento de primeira linha para começar o tratamento padrão do HIV em pessoas virgens para o tratamento no Brasil", explica Bernardino Geraldo Alves Souto, professor do Departamento de Medicina da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar), que participou da pesquisa, à Agência Brasil.

A pesquisa foi realizada com pacientes em tratamento do vírus entre 2008 e 2017 no Brasil e coordenada por Nuno Miguel Sampaio Osório, da Universidade do Minho, em Portugal.

Na análise de mais de 20 mil sequências genéticas de HIV de pacientes brasileiros foi constatado aumento de uma mutação específica chamada K65R.

Em 2008, essa mutação foi encontrada em 2,23% dos pacientes; em 2017, subiu para 12,11% de todos os pesquisados.

Neste período, o protocolo de tratamento no País foi mudado, substituindo a Zidovudina pelo Tenofovir.

Souto afirma que uma forma de controlar a replicação dessa mutação é a genotipagem - isto é, exame que detecta a quais medicamentos o paciente tem resistência.

Hoje, a genotipagem é feita apenas em casos específicos, como em grávidas, tuberculosos e em parceiros sexuais de alguém que já faz tratamento há bastante tempo.

Quando o portador de HIV não responde ao tratamento em seis meses (ou seja, a quantidade de vírus não fica indetectável no sangue), a genotipagem também é solicitada.

No entanto, o ideal, explica o médico, seria fazer em todos os pacientes que recebem diagnóstico positivo para o HIV. Desta forma, por exemplo, se ele tiver a mutação K65R e for resistente ao Tenofovir, o paciente já receberia outro medicamento logo no início.

"Eu já escolho um coquetel que consegue driblar essas mutações e atacar o vírus. Se eu não tenho essa informação, eu dou um coquetel e se o vírus já é resistente, ele não vai ser eficaz, a pessoa não vai se beneficiar do tratamento e ainda vai transmitir o vírus resistente", diz.

Seria possível realizar o exame em todos os novos pacientes? "Do ponto de vista de laboratório e de outras coisas, nós temos isso em quantidade suficiente, o que precisamos é traçar uma estratégia logística que garanta que todas as pessoas que precisarem desse exame tenham acesso ao resultado do exame em curto prazo."

A mutação K65R e outras mudanças genéticas do HIV podem ajudar a explicar a falência terapêutica no Brasil. Enquanto novas infecções e mortes por aids caem no mundo, no Brasil foram detectadas 48 mil novas infecções e 14 mil mortes em 2019 por HIV e em decorrência da aids, respectivamente.


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