Após 11 anos, ator e DJ Caco Lelis dá adeus à drag queen Kylie Kiss

Artista afirma que período valeu muito a pena, mas que foca novos desafios

Publicado em 21/08/2021
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Kylie Kiss, homenagem à cantora australiana, foi alvo de críticas no meio drag por seu estilo

Numa época em que o reality RuPaul's Drag Race inspira cada vez mais homens a se lançarem como drag queens, um deles faz o caminho inverso.

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Caco Lelis anunciou que não fará mais a drag Kylie Kiss, uma das mais famosas de Brasília. 

"Sempre gostei de começar e fechar um ciclo", explicou o ator e DJ ao Guia Gay Brasília. O artista apagou todas fotos da personagem na sua rede social. 

A persona irreverente e colorida de Kylie surgiu na vida de Caco em 2010 em exercício de seu trabalho de ator.

"Eu tinha que fazer uma experiência para um personagem que eu ia interpretar", lembra. A estreia foi na extinta Blue Space Brasília. 

"Era uma festa que teria o Sapabonde, ia ter umas pessoas que eu conhecia. Eu fui montado, passei por todos com rabo de cavalo. Enfim, foi bem divertido."

No entanto, foi só um tempo depois, em uma época em que Caco morava no Rio de Janeiro, que a proposta de Kylie se tornou bem definida e a drag queen ganhou conceito próprio.

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Foco na carreira de DJ e de ator é o projeto de Caco

O nome, claro, homenageia a australiana Kylie Minogue e era para ser apenas Kylie. 

"Mas o Facebook não aceitava só Kylie. Então, eu falei, ah, vai ser Kylie Kiss", recorda-se. "A marca, inclusive, era a boca, o beijo [kiss, em inglês], então, ficou."

Caco explica que a ideia da personagem sempre foi entretenimento, mas que ele se esforçava para mostrar que existia algo além da imagem.

"O cabelo era desgrenhado, as roupas eram mais artísticas, da Cruella DeVil, de plástico, de vinil, uma coisa mais teatral, o cabelo tinha muita cor", diz.

"Justamente para que as pessoas vissem aquele marcador de texto passando, mas como DJ eu me esforçava, como apresentadora eu me esforçava, enfim, eu fazia as outras coisas darem certo para que as pessoas não ficassem só na imagem do que era drag queen."

Para o ator e DJ, a proposta de uma queen é romper barreiras e ele quebrava também dentro do próprio meio drag.

"As colegas olhavam e falavam: 'Mas ela é feia, não se maquia direito'. E meu foco era maquiar pra durar a noite inteira, pra não suar. E eu ainda sou um menininho que pintava o rosto, então não ficava polido, como muitas pessoas falavam. O meu foco era no que eu ia entregar e não estou dizendo que elas estavam erradas de fazer o delas polido e tudo o mais. Cada um tem o seu segmento artístico."

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Drag queen também animou o carnaval no DF com bloco As Leis de Gaga

As viagens, lembra, eram complicadas. "Era um mala cheia de coisas para a Kylie, e uma mochila pequena para mim."

Como Kylie, Caco subiu ao palco e apresentou nomes tais como Elza Soares, Gal Costa, Raimundos, Simone e Simária, Pabllo Vittar e Gloria Groove, participou de paradas LGBT do Rio e de Brasília, teve programa de rádio e tocou em quase todos os Estados brasileiros.

Suas duas últimas aparições, ele diz, encerram esse ciclo de Kylie no auge. Ele participa do longa-metragem Eduardo e Mônica, de René Sampaio, com Alice Braga e Gabriel Leone, que deve ser lançado em breve, e foi destaque em um episódio da Faber Castell sobre sua drag queen.

O bloco de carnaval As Leis de Gaga, protagonizado por Kylie, vai continuar e, promete Caco, terá novidades.

Prestes a completar 30 anos em outubro, Caco continuará se dedicando a suas paixões: a arte de interpretar (que o move desde os 12 anos) e o prazer de tocar.

As roupas de Kylie continuarão com ele e poderão servir para outras composições.

"Estou feliz porque realizei o que eu queria, que era passar pras pessoas uma mensagem bacana, de reflexão, de que temos de valorizar o que a gente acreditar, de primarmos pela educação. Aprendi meus limites, o respeito. E me diverti muito."

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Personagem participou de paradas do orgulho, programas de rádio e filme

 


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