Ex-travesti? Ruby da Saúde marca data de possível mudança em culto

Trans com histórico de conquistas afirma que modificação de identidade será decidida por Deus

Publicado em 16/08/2020
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Ruby na Parada do Orgulho LGBTS de Brasília em 2018. Fotos: Arquivo pessoal

A data está marcada. Na quinta 20 de agosto, a inauguração do novo templo da Igreja Pentecostal Assembleia do Trono de Deus, em Ceilândia. Entretanto, uma das principas atrações anunciadas no flyer que circula pelos grupos de Whatsapp ainda não é confirmada: a "transformação do ex-travesti Ruby da Saúde". 

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A dúvida vem da própria Ruby Lopes, que foi a primeira transgênero a trabalhar na Câmara Legislativa do DF e candidata a deputada distrital em 2014.

"Não sei ainda o que vou fazer. Sei que isso está na divulgação. Quem vai decidir é Deus. Até lá, até o dia 20, virá a decisão Dele. O que Ele decidir estará decidido", disse ao Guia Gay Brasília.  

Ruby da Saúde, como é conhecida, afirma que a possibilidade de voltar a ser homem não tem a ver com pressão dos líderes religiosos da congregração, mas sim com a decepção que ela teve com a comunidade LGBT.

Em 2019, Ruby foi acusada de cobrar de pacientes pagamentos para conseguir autorização de cirurgias no Hospital Regional de Taguatinga, serviço público onde era supervisora de emergência.  

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Ruby exibe seu crachá como assessora parlamentar na Câmara Legislativa do DF

"Antes desse episódio, eu era querida por todos. Fui madrinha de parada de Ceilândia, tinha amigos. Mas quando vieram essas acusações, ninguém veio perguntar a minha versão, veio me dar apoio. Sumiram todos."

O preenchimento do que ela chama de vazio foi encontrado na Igreja Pentecostal. "Eu fui procurar apoio. E lá, fui recebida de braços abertos. Fui acolhida. O fato é que sem Deus não somos nada."

A relação com o divino marca a vida de Ruby, que durante toda entrevista reafirma não saber se após o dia 20 voltará a ser chamada de Edson ou continuará ter identidade feminina. 

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Divulgação do culto em que pode haver mudança de gênero de Ruby

Ainda como Edson, integrou a Igreja Universal do Reino de Deus. Aos 24 anos, conta, estava prestes a ir para a África ser pastor. Entretanto, veio uma grande mudança. 

"Virei travesti. Fui me prostituir. Fiquei nessa vida por pouco mais de um ano. Em seguida me formei técnica em enfermagem, depois fiz curso superior."

A conversa com Ruby, hoje com 40 anos, só foi possível fora de seu plantão como enfermeira em hospital na Asa Sul, onde tem enfrentado, inclusive, os efeitos da pandemia de coronavírus. E tudo é feito com alegria. "Amo minha profissão. Vou ser sempre a Ruby da Saúde. E hoje estou com Deus." 

Além de falas felizes, há evidentes ressentimentos quando o assunto é o meio LGBT. 

"Sou LGBT. O fato é que estou cansada do fato desse meio ser só festa. Não senti amizade. Já fui da macumba. E era pai de santo transando com filho de santo. Não via felicidade nisso."

Se vai retirar os seios, se vai usar roupas masculinas, se nada vai mudar, isso Ruby afirma não saber. "Hoje essa sou eu. Não sei o que virá dia 20, mas não deixarei ser eu. Sou o que sou. Sendo Edson ou Ruby. Deus vai decidir, já lhe falei! Deus vai decidir!"

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Depois de quase ser pastor e se prostituir, Ruby atua em enfermagem

 


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