Livro defende que santos Sérgio e Baco eram, na verdade, casal gay

Reportagem da BBC lembra livro que apresenta vários indícios para essa afirmação

Publicado em 27/10/2020
Sérgio e Baco: santos gays da Igreja Católica torturados e mortos no século 4
Representação dos dois com figura menor de Jesus Cristo no meio seria uma dessas provas

Sim, é grande marco na Igreja Católica o pedido do papa Francisco pela legalização da união civil homossexual, entretanto a lista desses chacoalhões na instituição pode ter até, imagine só, um casal gay de santos.

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Sérgio e Baco foram martirizados possivelmente entre os anos de 311 e 314 e há textos e pesquisas que defendem que os dois formavam um casal.

A BBB News Brasil recuperou o tema citando, em especial, o pesquisador norte-americano John Boswell (1947-1994), professor da Universidade de Yale, que falou sobre o casal em Same-Sex Unions in Pre-Modern Europe (Uniões homossexuais na Europa Pré-Moderna, em tradução livre), lançado em 1994.

No século 4, o cristianismo era perseguido pelos romanos. Sérgio e Baco teriam sido soldados romanos que acompanhavam o imperador Galério Maximiano (260-311) ao Oriente Médio.

Na Síria, os dois se recusaram a participar de uma oferenda ao rei Júpiter em um templo pagão. A atitude os teria denunciado. Ambos se negaram a renunciar ao cristianismo.

Eles, então, foram vestidos com roupas femininas e torturados. Baco morreu. Alguns dias depois, Sérgio foi decapitado.

Em texto grego conhecido como "A Paixão dos Santos Sérgio e Baco", escrito possivelmente no ano de 425, eles são descritos como "unidos por um amor um ao outro".

Segundo Bozwell, esta era a mesma forma à época para falar de pessoas heterossexuais casadas.

Eles teriam tomado parte também de um ritual antigo de "irmandade", assumindo um vínculo afetivo perante a Igreja chamado "adelphopoiesis".

Corrobora a tese de que eram um casal o fato deles serem representados lado a lado com uma figura de Cristo, menor, entre eles.

O pesquisador afirma que essa era a forma de retratar casais na Roma Antiga em que "geralmente uma divindade" ocupa essa posição como "uma dama de honra supervisionando o casamento".

Nos anos 1990, o artista plástico e frade franciscano Robert Lentz fez releitura do casal e a imagem foi exibida na parada LGBT de Chicago.

Releitura dos santos gays Sérgio e Baco pelo artista plástico Roberto Lentz
Releitura dos santos gays Sérgio e Baco pelo artista plástico Roberto Lentz

No entanto, vários estudiosos refutam a ideia de casal e dizem que não há elementos suficientes para que se prove a tese.

No Martirológio Romano - o livro dos santos católicos - o verbete sobre eles diz apenas: "Em Betsáloe, na Augusta Eufratesia, hoje Síria, os santos Sérgio e Baco, mártires, século III ou IV".

Sobre eles terem sido vestidos com roupas femininas no momento da tortura, isso pode ter sido a causa, não a consequência.

O vaticanista Filipe Domingues disse à publicação que justamente pelos soldados terem sido ridicularizados com roupas femininas é que a ideia deles serem um casal se alastrou - e não o contrário.

Chefe do departamento de Ciências Sociais da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP), o teólogo e filósofo Fernando Altemeyer Júnior explica que o número de mártires homens e mulheres que são recordados juntos é grande.

"Isso não diz que havia homoafetividade. A crueldade contra os cristãos é suficiente para explicar o martírio sangrento", diz.


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