14 bairros gays pelo mundo: agito, história e resistência

No Dia Internacional do Turismo LGBT, veja onde o arco-íris brilha mais forte

Publicado em 10/08/2021
14 bairros gays pelo mundo. Na foto: Castro, em San Francisco
Castro, em São Francisco, é um dos mais famosos redutos gays do mundo

Por Marcio Claesen

Drinks, liberdade, pegação, resistência política, corpos à mostra, história e muito orgulho. Em vários lugares do mundo isso é possível ser vivido por LGBT: são onde arco-íris brilha mais forte! 

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Essa materialização do "vale dos homossexuais" ocorre nos latinos Chapinero e República, no histórico bairro do Castro, nos super agitados europeus Chueca e Soho, nas cidades de Sitges e Wilton Maners, dentre outras áreas. 

Para marcar o 10 de agosto, Dia Internacional do Turismo LGBT, conheça 14 desses bairros gays que fazem muitos, depois de meses sem poder viajar por conta da pandemia do novo coronavírus, já traçarem planos para a mala empoeirada e o passaporte no fundo da gaveta. 

 

Boystown (Chicago, EUA)

14 bairros gays do mundo: Boystown (Northalsted) em Chicago (EUA)

É o bairro gay reconhecido oficialmente mais antigo dos Estados Unidos.

Um de seus diferenciais são os tótens, chamados de Legacy Walk, definidos como o único museu LGBT a céu aberto no mundo. 

Ao todo, 37 esculturas em bronze são dedicadas a personalidades LGBT - Oscar Wilde, Frida Khalo, Harvey Milk e Bayard Rustin dentre outros -, e a símbolos e episódios importantes, tal como a Revolta de Stonewall.

Ainda que numa pesquisa a maioria dos habitantes (58%) tenha dito que preferia manter Boystown, comerciantes mudaram, em 2020, o nome da região para Northalsted a pedido de pessoas não-binárias supostamente para que se tornasse mais inclusivo. Turistas e moradores continuam se referindo à região como Boystown.

 

Canal Street (Manchester, Inglaterra)

14 bairros gays pelo mundo: Canal Street em Manchester, Inglaterra

Quando os canais da cidade deixaram de ser usados para transportar algodão, esta área entrou em decadência e passou a ser frequentada por prostitutas e LGBT.

Na década de 1950, o pub New Union, construído quase um século antes, passou a ser referência para gays e, aos poucos, a rua junto ao canal - por isto o nome - recebeu inúmeros estabelecimentos arco-íris.

Em 1999, a Canal Street ganhou projeção mundial ao ambientar a série Queer as Folk, que, no ano seguinte, passou a ter versão norte-americana.

 

Castro (São Francisco, EUA)

Castro em São Francisco (EUA): 14 bairros gays no mundo

Talvez o bairro gay mais famoso do mundo, o Castro se desenvolveu a partir da Castro Street, próximo à Market Street, e se tornou o centro arco-íris da região, que inclui outros distritos onde também há muitos gays, tais como Dolores Heights, Corona Heights e Twin Peaks.

Com nome em homenagem ao político californiano José Castro (1808-1860), o bairro teve forte colonização nórdica, especialmente finlandesa, no século 19. A partir da década de 1930 ganhou imigrantes de outros lugares, tal como a Itália.

O primeiro bar gay aberto na região foi o Missouri Mule, em 1963. No final daquela década já atraía gays de várias partes do País.

Nos anos 1970, consolidou-se como referência à liberdade de poder ser gay em público: em 1972, foi inaugurado o primeiro bar gay dos Estados Unidos com janelas abertas, o Twin Peaks - até então, lugares para homossexuais eram totalmente fechados.

O Castro disseminou a cultura leather e dos jeans justos com camisas de flanela e botas, acompanhados por bigode ou barba nos anos 1970. A região ao lado, South of Market (ou SoMa) realiza até hoje um festival BDSM ao ar livre, a Folsom Street Fair.

Nos anos 1980, a epidemia da aids fez fechar todas as saunas gays do Castro. Ficam ali pontos turísticos arco-íris mundiais, tais como o Museu Histórico GLBT e a Calçada Histórica, com placas que lembram figuras e momentos históricos.

Uma praça foi batizada com o nome de Harvey Milk, primeiro homem gay eleito a um cargo público nos Estados Unidos, que era morador do bairro e foi assassinado em 1978.

 

Chapinero (Bogotá, Colômbia)

14 bairros gays no mundo: Chapinero, em Bogotá, Colômbia

Bairro mais gay da América do Sul, o Chapinero deve seu nome a Antón Hero Cepeda, sapateiro espanhol que chegou à região no século 16. Como ele fazia calçados com sola de madeira e tiras de couro, chamados por lá de "chapines", o homem acabou por receber o apelido de El Chapinero.

A parte arco-íris é justamente onde o bairro nasceu, o Chapinero Central, entre a Carrera 7 e Avenida Caracas e próximo às ruas 58 a 63, coração nevrálgico da região e também o mais degradado. O restante do distrito, que leva o nome Chapinero, é composto principalmente por áreas chiques. Estão aí Quinta Camacho, La Cabrera e Chicó.

No Parque de los Hippies fica um orgulhoso letreiro com o nome da cidade nas cores do arco-íris e, ao lado, faixas de pedestres nos mesmos tons.

A região abriga quase duas dezenas de lojas voltadas a homens gays, assim como outras duas dúzias de bares para este público.

Fica ali o maior complexo LGBT do mundo, o Theatron, que ocupa dependências de um antigo cinema e se divide em cerca de outros 13 espaços, como taverna, boate e rooftop.

 

Chueca (Madri, Espanha)

Chueca, em Madri: 14 bairros gays pelo mundo

Um dos mais agitados redutos gays do mundo, o Chueca fica na área central da capital espanhola, dentro do distrito de Justicia.

O nome da área se popularizou por causa da Plaza de Chueca, que homenageia o compositor Federico Chueca (1846-1908), um dos mais proeminentes de chico, um subgênero da zarzuela, gênero lírico-dramático parte falado, parte cantado.

É pela Gran Via, a principal avenida que atravessa o bairro, que passa a maior parada LGBT da Europa e que reúne milhares de habitantes e turistas de várias partes do mundo.

Em meio a suas ruas estreitas - como a Hortaleza e Gravina - espalham-se dezenas de cafés, bares, restaurantes, sex clubs e lojas com foco no público gay.

 

Hell's Kitchen (Nova York, EUA)

14 bairros gays pelo mundo: Hell's Kitchen, em Nova York, EUA

"Cozinha do inferno", em tradução literal, o bairro tem diversas hipóteses para origem de seu nome, incluindo um cortiço na Rua 54 e outro na Rua 39, que teriam sido chamados assim na imprensa e por moradores.

No West Side de Manhattan, Hell's Kitchen era uma área de trabalhadores irlandeses até os anos 1970 quando foi ganhando novos habitantes.

Após processo de gentrificação do Greenwich Village e do Chelsea nos anos 1990 e 2000 - que elevou preços de aluguéis e "expulsou" pequenos negócios da região, o bairro passou a abrigar a comunidade LGBT.

Além dos inúmeros estabelecimentos voltados à comunidade, a região também é lar de vários estúdios de TV e de música e do mundialmente conhecido Actor's Studio, centro de estudos teatrais.

 

Le Village (Montreal, Canadá)

14 bairros gays pelo mundo: Le Village, Montreal, Canadá

Na maior cidade da província de Quebec, o Le Village é o maior bairro gay de língua predominantemente francesa do mundo.

Mais uma região de classe operária que foi adotada pela comunidade gay, o Le Village, no distrito do Centre-Sud, começou a ganhar endereços para este público no fim dos anos 1960.

Porém, até os anos 1980, muitos dos estabelecimentos sofriam com repressão constante da polícia. 

O nome veio de um dos proprietários da boate K.O.X., que morou nos Estados Unidos, e queria criar um reduto de inclusão como o East Village nova-iorquino. Daí surgiu o Le Village d'Est, que acabou conhecido apenas como Le Village ou Gay Village.

A partir dos anos 1990, o próprio governo abraçou o potencial turístico da região dentre gays, o que fez com que cada vez mais bares, restaurantes e cafés voltados a homossexuais abrissem por ali.

Há uma estação de metrô - a Beaudry - com pilares arco-íris e vários eventos de rua, especialmente na Saint Catherine Street, como a parada LGBT.

 

República (São Paulo, Brasil)

Soda Pop Bar: bairros gays do mundo: República, em São Paulo

Bairro com a maior concentração de endereços LGBT do País, a República é um dos locais mais antigos da cidade, com prédios de atração histórica tal como o Theatro Municipal, e icônicos, a exemplo do Copan e da Galeria do Rock.

A história da vida gay em uma das maiores cidades do mundo nasceu aí. Na década de 1960, gays tinham na Galeria Metrópole seu principal ponto de paquera.

Bar gay mais antigo da capital paulista, o Caneca de Prata já atraía gays nos anos 1960 e ajudou a fazer da Avenida Vieira de Carvalho passarela de homossexuais - especialmente maduros e ursos.

No final da Vieira, está o Largo do Arouche, por onde se espalham saunas, bares e lojas voltadas a gays, é espaço histórico de resistência arco-íris.

 

Schöneberg (Berlim, Alemanha)

14 bairros gays pelo mundo: Schoeneberg, em Berlim, Alemanha

Bairro gay mais antigo do mundo, o Schöneberg, em Berlim Ocidental, tem concentração deste público desde a década de 1920 em torno da Nollendorplatz.

Alguns endereços, como o Eldorado, em 1932, sofreram perseguições de nazistas.

Foi morando no bairro que o dramaturgo Christopher Isherwood escreveu peças. Exemplo é o musical Cabaret. Nomes como Marlene Dietrich, Billy Wilder e David Bowie também moraram ali.

Dentre inúmeros sex clubs, bares, restaurantes, cafés e lojas gays, a região também abriga, desde 1993, o maior festival LGBT de rua da Europa, o Lesbian and Gay City Festival (em junho) - e os maiores eventos leather do continente, o Easter Berlin (em abril) e a Folsom Europe (em setembro), todos na movimentadíssima Motzstraße.

 

Sitges (Barcelona, Espanha)

14 bairros gays pelo mundo: Sitges, Barcelona, na Espanha

Não é um bairro, mas um pequeno município a 38 km ao sul de Barcelona, e que é destino obrigatório a gays que visitam a cidade de Gaudí.

Sitges é uma palavra no plural em catalão para construções destinadas a armazenar grãos.

Há vários endereços dedicados ao público gay - especialmente durante o verão (entre maio e setembro, no Hemisfério Norte), além das praias.

Gays vindos de todas as partes da Europa são maioria nas areias dourando-se - alguns, como vieram ao mundo - sob o sol e banhando-se no Mar Mediterrâneo.

 

Soho (Londres, Inglaterra)

14 bairros gays pelo mundo: Soho, em Londres, Inglaterra

Historicamente ligado a prostituição, o bairro foi por muito tempo o centro dos cinemas eróticos, saunas e bordéis em Londres. 

Bem próximo ao coração da cidade, o Soho pertence à região do West End e seu nome pode ter se originado como um grito para quem saía à caça ou a batalhas.

Nas últimas décadas, o local passou por processo de gentrificação e ganhou estabelecimentos da moda, além de comportar vários teatros e até estúdio de cinema.

Fica no Soho uma das casas noturnas gays mais conhecidas do mundo, a G-A-Y. Inúmeros outros endereços dedicados a este público se espalham pelo bairro, sobretudo em torno da Old Compton Street.

 

West Hollywood (Los Angeles, EUA)

14 bairros gays pelo mundo: West Hollywood, Los Angeles, Estados Unidos

Assim como Sitges, West Hollywood não é um bairro. Criada em 1984, a cidade é uma das 88 que compõem o Condado de Los Angeles, como Bervely Hills e Malibu. Na prática, é como se estivesse na zona oeste de L.A.

É em West Hollywood que se realizam grandes eventos de Los Angeles, como a parada LGBT e o festival de cinema Outfest.

A prostituição masculina ficou famosa por meio de inúmeros filmes gravados no Santa Monica Boulevard, a via mais famosa da região.

Estima-se que 40% da população de West Hollywood seja LGBT e há uma grande oferta de cafés, restaurantes, sex clubs, cinemas eróticos, clubes e lojas com foco no consumidor gay.

 

Wilton Manors (Fort Lauderdale, EUA)

14 bairros gays pelo mundo: Wilton Manors, Fort Lauderdale, EUA

Outra cidade que se comporta como bairro, Wilton Manors tem cerca de apenas 11 mil habitantes e é conhecida como a região gay de Fort Lauderdale.

Lugar com segundo maior número de casais homossexuais dos Estados Unidos - depois de Provincetown - Wilton Manors começou a ganhar numerosa população gay em fins dos anos 1980.

Em 2000, fez história ao eleger prefeito e vice-prefeito assumidamente homossexuais.

Já nessa época, a cidade se tornou o coração gay da Flórida quando a Wilton Drive, principal via da região, foi repaginada.

Desde então, boa parte dos estabelecimentos na avenida têm foco em gays ou são comandados por eles, o que inclui inúmeros restaurantes, bares, casas noturnas e saunas.

 

Zona Rosa (Cidade do México, México)

14 bairros gays pelo mundo: Zona Rosa na Cidade do México

No distrito de Colonia Juárez, à oeste do centro histórico, a Zona Rosa já foi o lar da boêmia e intelectualidade mexicana nos anos 1950 e 1960, quando recebeu seu nome do artista plástico José Luis Cuevas.

Nos anos 1970 e, principalmente, 1980, endereços estrelados fugiram dali com a crise, marginalidade e degradação que tomaram conta.

Dentre os anos 1980 e 1990, surgiram cada vez mais saunas e bares gays, que passaram a tornar o bairro famoso dentre a comunidade.

Houve revitalização a partir dos anos 2000, que fez a região voltar a atrair casas noturnas e lojas, além de uma significativa população coreana, mas a cultura gay predomina na área com suas dezenas de estabelecimentos, dentre boates, sex clubs, sex shops, cafés e hotéis, voltados a homens que gostam de homens.

É ali também, mais especificanente no Paseo de la Reforma, que se celebra a parada LGBT da cidade.


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