Por Marcio Claesen
Era para ser um janeiro de grandes voos para Lil Nas X, mas J Christ, seu novo trabalho, fracassou.
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O fato é surpreendende uma vez que o rapper de 24 anos seguia trajetória ascendente e que mostrava ainda muito fôlego para se manter nos charts por um bom tempo.
Lançado no último dia 12, o single estreou na vexatória posição de número 69 no Hot 100 da Billboard nesta semana, foi 59º no Reino Unido e não entrou na maioria das paradas do restante do mundo.
No X (antigo Twitter), o artista tentou levar com bom humor a colocação na parada estadunidense fazendo referência à posição sexual.
"Nós conseguimos, meninos! Chegamos ao número engraçado. Tenham muito orgulho de vocês mesmos. Esse é o nosso momento!", escreveu.
Veja a seguir cinco motivos que podem ter feito Lil Nas X se dar mal:
1) A polêmica religiosa
A razão mais óbvia do fracasso. O rapper emulou Jesus Cristo e apareceu pregado na cruz no clipe. Em um vídeo no TikTok, Lil foi visto comendo o pão da comunhão e bebendo vinho, também como Jesus, dizendo que queria amenizar o clima.
Após muitas críticas nas redes sociais, o artista se desculpou pelo clipe afirmando que não quis "zombar" e disse que não foi "foda-se, cristãos". "Foi: 'estou de volta como Jesus", explicou.
"Eu não sou a primeira pessoa a se vestir como Jesus. Eu não sou o primeiro rapper, eu não sou o primeiro artista, e não serei o último", disse.
Ele também lamentou pelo vídeo do TikTok: "Pensei que era algo que todos nós queríamos fazer quando éramos crianças e tal, mas não entendia a realidade de como eu comendo a comunhão é o simbolismo do sangue e ossos de Jesus ou algo assim", explicou-se. "Eu não quis dizer isso como uma coisa de canibalismo. Peço desculpas por isso. Foi exagerado."
2) A cultura do cancelamento
Mas, afinal, se como o próprio Lil Nas lembrou que inúmeros outros artistas já fizeram alusão a Cristo, por que todo esse auê agora? A resposta pode estar na "sinalização da virtude".
Redes sociais - sobretudo de pessoas ditas progressistas, o que inclui boa parte da comunidade LGBT - estão tomadas pela "sinalização de virtude". Todos querem parecer melhores do que são e condenar os mínimos erros contra quaisquer minorias ou grupos da sociedade - neste caso, os cristãos. Ainda que não acreditem no que pensam, muitas pessoas estão prontas para ficar do lado que ela acredita que deve estar para mostrar que se importa "com a dor do outro".
3) Madonna e Lady Gaga
Lil Nas X tem grande penetração na comunidade LGBT e, ao lançar seu trabalho, pareceu ter feito pouco caso de duas das maiores artistas pop - e ídolos LGBT - de todos os tempos.
Ao ser criticado por um fã de que faltou "classe" ao seu clipe diferentemente das duas artistas, o rapper respondeu de forma grosseira. "O problema com muitos gays é que vocês pensam que estou tentando ser como Gaga ou Madonna, quando na realidade, com todo o respeito, eu não dou a mínima para o que elas fizeram e estou fazendo o que quero com minha carreira."
O aparente desmerecimento com as cantoras fez Lil Nas ser bastante atacado nas redes e pode ter criado má vontade não só dos fãs de Gaga e Madonna como de outras tantas. Ainda que muitos gays tenham outras divas como ídolos, boa parte respeita estas duas, além de terem se colocado na posição dos fãs delas com um "poderia ter acontecido com a minha".
4) A má vontade de gays com gays
Não é de hoje que gays fomentam a carreira de mulheres héteros e prestam pouquíssima atenção à trajetória de homens gays. A maioria não admite, mas a história mostra a realidade. De Elton John e George Michael no passado a Jão no presente, cantores gays e bissexuais têm maior penetração com mulheres (basta ver os shows de cada um). Gays fazem sucesso com gays desde que emulem a figura feminina - ou seja, travestidos como mulheres, as drag queens.
Lil Nas X se tornou uma rara exceção ao conquistar um grande público gay nos últimos anos, mas a boa fase pode ter acabado.
5) O hip-hop
Ser homem e gostar de homens e fazer hip-hop nunca foi a receita mais fácil de sucesso. O meio deste gênero musical é bastante homofóbico. Por outro lado, o público mais liberal - os gays - preferem pop a qualquer outro gênero musical. Isso faz com que Lil Nas fique numa espécie de limbo sem um público alvo.
Entre 2019 e 2022, não foi o que aconteceu. O rapper parecia estar quebrando barreiras dentre os apreciadores do hip-hop e ganhando fãs dentre os amantes do pop. J Christ é uma boa canção e não fica muito atrás dos grandes sucessos do cantor. O que, então, seria diferente agora?
Nos últimos anos, cada vez mais Lil Nas se interessa em quebrar padrões de gênero e surge com acessórios e figurinos tidos como femininos. Talvez tenha esticado demais a corda para os fãs héteros de hip-hop? Ou os fãs gays já tenham saturado de hip-hop? As duas coisas juntas?
Fato é que um fracasso só, em geral, não determina uma carreira. A história da música está repleta de artistas que sofreram quedas e depois se levantaram. Às vezes, a "fase do ostracismo" nem leva muito tempo. Os próximos lançamentos de Lil Nas devem sair em breve e a história dirá o quão relevante ele ainda permanecerá na cultura pop.
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